Assim Neura escreveu em seu diário, utensílio recém
adquirido, após sugestão de sua analista, uma pessoa teoricamente mais sensata
que as suas duas melhores amigas juntas!
“Vamos colocar pra fora essa energia toda minha filha,
parece uma ogiva nuclear! Você, ultimamente, tá pensando merda demais,
“bostejando” demais e o cheiro já tá se espalhando pela cidade toda! Cheiro de
merda!” É... talvez ela não seja tão sensata assim.
Bem, agora a poeira abaixou, e o mundo parece ter se
estabilizado... o corpo pede silêncio para se recompor dos desgastes excessivos
de um feriado que começou na virada do ano passado e terminou agora (será?!) no
carnaval!
Aff, e que carnaval! Alguém anotou a placa do caminhão? Tô um lixo!
Aff, e que carnaval! Alguém anotou a placa do caminhão? Tô um lixo!
É chegada a hora da bendita reflexão: O que realizei no ano que passou
e quais são os projetos para este ano?
O que fazer para engrenar de vez na minha carreira, se é que
eu posso chamar de carreira?
O relógio biológico acelerando... e o tempo não pára! Será
que conseguirei conciliar amor, sexo, carreira, filhos? Não, filho, filha...um só! Ah, deixa pra lá!
Será o destino final de todas nós (mulheres bem ou mal
resolvidas) ter um companheiro pra chamar de seu ou será que a instituição
casamento já não tem mais futuro?
E o que será de nós, mulheres desta nova era pós-moderna,
pós-apocalíptica, pós-graduada, pós-sutiãs-queimados, pós-depiladas,
pós-analisadas, "pós-suídas"?
Tô num momento de introspecção, inspiração, filosófico,
diria até poético! Nem parece que sou eu pensando essas coisas.... será que eu
fui abduzida? Incorporada? Será que eu tô possuída? Ih, possuída de novo! Isso
me lembra outra coisa!!!
Foco, sua doida! Foco!
Neura vem do
banheiro, já vestida para sua corridinha matinal, vai até o espelho de seu
quarto e com um sorriso abertamente tolo na boca, suspira num tom de “lá....
lá-lá-ri-lá-lá” admirando as curvas que ontem eram pelancas e nesta manhã de
sábado se tornaram divinas, herança notória de uma Vênus de Milo toda
trabalhada nos 10km de jogging.
Neura vai até a
janela. Por trás do vidro, apóia a testa e repara ao redor. reflete como
tudo é efêmero, e imagina que tudo ali já estava lá muito antes dela nascer, e
provavelmente, continuaria ali, depois que ela se fosse. Ela abre a janela com
energia e o som caótico do trânsito abaixo logo invade o ambiente. e ela começa
a tossir por causa da poluição.
Caraca, não se pode nem tentar ser mais profunda, que a vida
vem e lhe soca a boca do estômago com um choque de realidade...
Puuuuuuut...quiuspára!
Mas, voltando ao ponto que não quer calar: a paixão me invadiu sim, e para que neurose por isso?!
“Se vai dar certo eu não sei, só sei que nada sei, e estou
feliz assim!”
E tranquila, NEURA fecha
a janela, mesmo porque aquela filosofia toda já ultrapassava o limite do
piegas, o vento fez com que um cisco entrasse no seu olho, já estava ardendo, o
rímel não era a prova d’água, os cabelinhos novos já haviam se rebelado no alto
do cocuruto, trazendo a tona seu lado afro descendente, transformando sua
progressiva em possessiva, e agora só molhando com creme ou alisando com
chapinha...Pohãn!!
Mas, Neura é forte, otimista e pensa, “What a hell?!”
Sua fase de aceitação
supera qualquer rebeldia capilar, e ela solta o cabelo, que se arma como uma
arapuca de passarinho, AFINAL ela é uma amazonas, uma selvagem da motocicleta,
no SEU caso bicicleta, e ela vai com sua roupitcha (se sentindo embalada a
vácuo) e sai serelepe com seu I-Pod e TODA sua energia REPRIMIDA, a caminho da
Rodrigo de Freitas, a Lagoa, montada em seu alazão, seu camelo, sua magrela,
plena, linda, poderosa, só no carão, e no cabelão LITERALMENTE....
“a felicidade
é um poder. Cultive-o. Dalai Lama.” Caraca, hoje eu tô que tô! U-hu, Nova
Iguaçu!
Descabelada, mas
feliz nossa heroína segue pela orla, cheia de si, a cada metro um resgate da
paz de espírito, pedalando, pedalando, meio distraída, meio desgovernada, meio
torta, meio...Opa!Opa! CUIDADO COM A BARRACA DE ÁGUA DE CÔCO!!!
Puta-que-o-pariu!!!!!!!!!!
CATAPLEFT! CATAPIMBA!
Lona! Neura, num pulo
da gata (AVARIADA), levanta-se rapidamente.
Eu tô bem! Eu tô bem! Tá tudo certo! Não foi nada!
NEURA SE RECOMPÕE E
MONTA NA SUA BIKE. ENDIREITA OS ÓCULOS DE SOL E ABRE SEU MELHOR sorriso, famoso de BOQUINHA TORTA, AGRADECE A DEUS E segue ouvindo seu I-POD, em ritmo de VIVA LA VIDA, dO
Coldplay, SEU VÍCIO MUSICAL DO MOMENTO - que perdura há meses - E segue plena, CONFIANTE, PODEROSA,
TENTANDO ABSTRAIR a dor na BUNDA E ADJACÊNCIAS, que À noite vai VIR COM TUDO, mas...what a hell?! tudo bem!
Tá apaixonada!!
nooooosa, quem
diria que um pouco de poesia podia salvar meu dia???
LESADA!!! ANTA!!!!
GRITA o vendedor de côco
lhe ergueNDO o dedo médio eMENDANDO UMA SÉRIE DE PALAVRÕES, xingaNDO até a SUA última geração...
Por Carolina Roldan
Colaboração Flavia Erthal